domingo, 20 de maio de 2012

Viajando na Leitura - "Ler é como voar nas asas de um Tico-Tico"

Quando idealizava o blog imaginava um espaço específico, onde profissionais das mais diversas áreas, mas envolvidos direta ou indiretamente com a infância, contribuíssem com dicas e reflexões sobre diversos temas. Algo que contribuísse com o nosso dia a dia, de forma a nos orientar, minorar nossas dúvidas, ou simplesmente nos ajudar a crescer junto com os nossos filhos. Enfim, um espaço que nos enriquecesse com um conhecimento mais trabalhado e vivenciado.

A cada dia, o blog dá mais um passo, cresce um pouquinho. Uma dica daqui ou dali, um comentário, uma crítica positiva... cada coisinha dessas vai sendo incorporada e passa a enriquecer essa caminhada.

Ainda estamos muito longe de chegarmos onde queremos. O blog ainda está ganhando formato, engatinhando para a forma desejada no início. E agora damos mais um desses passos. A inauguração do tão sonhado espaço. Para isso, junto com um bocado de imaginação, apresentamos um trecho de  um interessante livro sobre a história dos livros infantis, que está para ser lançado. Agradecendo, de logo, a generosa boa vontade de sua autora em nos disponibilizar o texto.
 
 
                                                  1939                                     1941                                    1948     


"Ler é como voar nas asas de um Tico-Tico

      No início do século XX, a revista infantil O Tico-Tico fazia enorme sucesso entre a garotada.

      Tico-tico era como se chamavam os colégios frequentados pelas crianças pobres dos morros cariocas. Poucas possuíam livros ou até mesmo uma cartilha. Sujas e descalças, elas passavam as tardes sentadas em bancos de madeira, aprendendo a soletrar, sob as ameaças da palmatória de um professor. No tico-tico, era ensinado o necessário às primeiras letras: ler, escrever e contar.

Mas não foi por lembrança dessas escolas que o jornalista carioca Luis Bartolomeu de Sousa e Silva escolheu o título para a revista. O motivo da escolha foi o próprio pássaro, que fazia muito sucesso entre a criançada da época.

Assim, a primeira revista para crianças no Brasil iniciou sua publicação no Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1905, e durou cinquenta e cinco anos, até 1962. Contava com a colaboração de escritores famosos como Coelho Neto, e ilustradores de renome como Ângelo Agostini e Max Yantock.

O Tico-Tico saia uma vez por semana. Como ainda não havia as bancas de revista, os leitores compravam dos jornaleiros ou faziam assinaturas que podiam começar em qualquer mês do ano, mas sempre terminando em julho ou dezembro. Havia firmas distribuidoras do semanário por todo o Brasil. Em Fortaleza, muitas famílias colecionavam a revista.

O Tico-Tico parecia um livro-brinquedo, um meio para manter a criançada entretida e quieta, proporcionando conhecimentos e diversão. livro. Formava um caderno grande de vinte e quatro páginas. Sua composição gráfica lembra as histórias em quadrinhos de hoje.

Mas o Tico-Tico era diferente dos livros em um ponto muito importante: nas páginas da famosa avezinha as crianças podiam escrever e publicar desenhos, poesias e contos, enviar seus retratos, e, por fim, organizar-se em uma comunidade brasileira de leitores. Os redatores empenhavam-se em formar um público que atuasse como produtor dos textos. É bastante interessante notar que, no passado, a leitura infantil era uma atividade vinculada ao exercício da escrita. A criança que aprendia a ler gostava do mesmo modo de escrever.

O Tico-Tico também publicava contos e histórias de aventuras. Muitos das histórias da carochinha eram simultaneamente lidas nos livros e no Tico-Tico, e algumas crianças até mesmo alfabetizavam-se nas páginas do semanário.

A criançada colecionava-o com o mesmo zelo que dispensava às obras literárias e escolares, pois o Tico-Tico passava do irmão mais velho para o mais novo. Muitos leitores da avezinha tornaram-se escritores famosos, como Carlos Drummond de Andrade, Luis da Câmara Cascudo, Pedro Nava e o cearense Gustavo Barroso.

O Tico-Tico era lido em casa ou na escola, e buscava formar seu público entre as crianças de seis a quatorze anos. As criancinhas de um a três anos, para as quais eram destinas as histórias em imagens, caso desejassem participar dos concursos e charadas, pediam que seus Papás e Mamãs lessem para elas.

Chiquinho foi o personagem mais popular da revista. Tinha um enorme talento para as travessuras. Juquinha era um camaradinha igualmente travesso e acompanhava-se, nas peripécias, de seu cãozinho Jagunço. Havia o Dr. Sabetudo, que assinava uma coluna científica e o Sr. X, com suas páginas de armar.

A partir de 1908, o caricaturista Max Yantock cria outros heróis de grande projeção, como Kaximbown, Pipoca, Pandareco, Pára-Choque, o Barão de Rapapé e o Vira-Lata. O desenhista Alfredo Storn, de São Paulo, contribui com o Zé Macaco, a Faustina, a Baratinha e o Cão Serrote.

Ao longo da sua história de aventuras e encantamentos, a revista O Tico-Tico sobreviveu ao cinema, ao rádio e, quase, à televisão, os principais suportes concorrentes dos impressos ― revistas e livros ― infantis. Fez escola, pois foi o precursor dos famosos gibis e revistas ilustradas para crianças como a Recreio.

Olhando para a sua história, que também é a história da leitura de nossos pais e avós, conhecemos melhor os desejos e as mudanças nas expectativas dos leitores do presente, e abrimos uma reflexão sobre o futuro dos livros e revistas infantis.

Afinal, os livros impressos, escolares ou literários, também insistem em sobreviver ao fascínio das novas tecnologias, dos jogos e brinquedos digitais. 

Quem sabe o futuro dos livros e das revistas impressas destinadas à formação das crianças e jovens seja a boa convivência com os jogos e livros digitais."




O nome do livro é Brasil em Imaginação - livros, impressos e leituras infantis (1895 - 1915), que vai ser lançado pela coleção UFC-INESP, ainda em 2012.



Andréa Borges Leão, a sua autora, é socióloga, professora da Universidade Federal do Ceará e autora de um outro livro, sendo este sobre a obra de um sociólogo alemão, e chamado Norbert Elias e a Educação. Ed: Autêntica, 2007.

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